Era o fim de um feriado morto. Nenhum lugar a pertencia, nem ela. Medo. Tomaria uma cerveja, na tentativa de. As conversas estéreis da internet eram o que bastava, no momento. A janela de casa também. Via o homem de terno que sempre saía para trabalhar (mesmo aos feriados), tentando ludibriar a própria existência. Medo. Nada tem sentido, pensava. Não, ela não amava. Não tinha vocação para o casamento, nem para as amizades. Medo. Pensava em aumentar o pacote de sua tv a cabo, eram poucos os canais, ela precisava de mais diversão. "Eu quero sair daqui", gritava rouco seu pensamento. Pensava nos filhos que ela não teria e na palavra, que não saía de sua cabeça. Medo. Olhava pacotes de viagem pela internet, apreçava cursos de inglês, yoga, drenagens. Tinha planos de emagrecer, mas isso era para quando ela estivese menos pesada. O futuro lá de longe a confortava. Um dia tudo seria melhor. Um dia teria fé, cintura, amigos e um noivo. Um dia o feriado chegaria ao fim e ela teria coragem de.
3 comentários:
Sempre te leio.
vc poderia ter sido óbvia, mas não foi. Evitou todas as armadilhas da previsibilidade ao entrar no tema, sem dar margem para nadar no raso. Gostei bastante. Acho que por isso, vou te dar um poema breve, um poema-espirro.
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Iris de hórus
ver é ilusão compartilhada
Tire o fóton da jogada
E verás o tato virar visão
G. Rosza (2006)
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Se achar q deve, visite meus textos. Se achar que não, um adeus modesto.
um dos melhores. "tinha planos de emagrecer, mas isso era para quando ela estivese menos pesada" é um achado! genial!
tem o humor exato: "Um dia teria fé, cintura, amigos e um noivo".
e tem as frases em suspenso, interrompidas. toque de mestre. lindo demais este texto!
sei que é bom porque senti inveja.
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